PALERMO - ITALIA
Sou Elizabeta, tenho doze anos. Moro em Palermo, na Itália, em 1905. Tenho uma família grande, meu pai é italiano e minha mãe inglesa.
Somos seis irmãos e meus avos que moram conosco e segundo a “nona” eu era a mais levada.
Tínhamos um vinhedo e todos trabalhavam muito, mas, éramos muito felizes. Cresci vendo meus irmãos se casarem e sentia muita pena deles. No casamento da minha irmã eu escondi o véu na esperança dela não se casar, mas, ela achou e se casou! Que pena!
Íamos à missa e eu dizia para minha “nona” que eu ia ser freira que nunca me casaria.
Minha avó dizia que as freiras dormiam em celas e eram casadas com Jesus!
E eu respondia que Jesus era sábio não ia casar-se com qualquer uma e não teria um bando de mulheres a pedir coisas.
Elas riam! E minha avó dizia:
_Você vai derrubar a igreja, esqueça, estude ou se case.
Quando eu tinha quatorze anos vi a primeira mulher a pilotar um avião. Pensei então serei pilota!
Meus primos arrumaram muitos galhos e amarramos trapos em mim, subi no telhado de casa e me joguei... voei....para dentro da carroça de feno e quebrei o braço.
Um dia chegou um rapaz, e então corri para o quarto prendi meus cabelos todo para cima, passei muito pó de arroz e fiz pintas em meu rosto e me joguei no sofá. Quando o rapaz entrou eu disse:
-Cuidado é contagioso!
O rapaz saiu correndo. Só então meu pai me disse que ele era sobrinho de um grande amigo dele e que tinha vindo para ajudar encontrar um meio de colocar nossas uvas no mercado europeu.
Pedi desculpas, eu achava que era meu pretendente.
Um dia fomos à missa e tinha um coral de freiras cantando maravilhosamente. Fiquei encantada, fui para perto delas e disse que eu tinha talento e comecei a cantar.
Acho que eu berrava, tal era o espanto delas, mas, eu esqueci que estava com uma bala na boca, me engasguei. Meu pai me pôs de cabeça pra baixo e a bala caiu.
Quando fiz quinze anos meus pais fizeram uma linda festa e antes teve uma missa. Todos os vizinhos vieram.Minha madrinha fez em grande bolo todo enfeitado.
De repente vejo meu pai caminhando na minha direção acompanhada por um rapagão. Fiquei desesperada, não podia fugir, não tinha onde me esconder, olhei para o bolo e tive um grande idéia:
Enterrei a cara no bolo para que ele não me visse. Ninguém pode comer o bolo, mas, estava uma delicia.
Minha mãe, uma lady, não sabia o que fazer comigo! E eu disse-lhe:
-Mamãe foi meu instinto de sobrevivência!
Alguns dias depois fui à igreja com minha mãe e minha avó, as freiras estavam lavando o chão, mas tinha uma linda imagem do coração de Jesus e eu queria vê-la de perto e fui correndo abraçara freira Pia Maria.
Mas, não vi o chão ensaboado e escorreguei e para me segurar apoiei-me na freira e fomos as duas para o chão.
No vinhedo ajudávamos amassar as uvas pisando dentro dos toneis, até que vimos meu pai conversando alto com Antonio, um lindo rapaz,quando o vi mergulhei no tonel, com medo que fosse um novo pretendente. Então as uvas já não serviam mais para o vinho. Elas só serviram para fazer geléia.
Meu castigo foi levar todos os vidros de geléia para vender na cidade e só voltei depois de vender tudo.
Meus pais receberam elogios pela geléia Santo Antonio e pelo vinho São Pedro. Tudo ia muito bem.
Até que veio a primeira guerra mundial, tivemos que abandonar tudo e ir para Inglaterra até 1918.
Na Inglaterra estudamos, mas todos tinham medo. Minha mãe e irmãs fizeram um curso de enfermagem durante vinte e cinco dias e entraram para a Cruz Vermelha.
Mas, mesmo assim meu pai não desistiu de me arrumar um noivo.
Quando eu soube entrei rapidamente na Cruz Vermelha fiz meu curso em sete dias e comecei a trabalhar ajudando a todos.
Vi muitos aviadores ingleses, franceses, americanos e voluntários aventureiros lutando na guerra.
Finalmente em 1919 voltamos para Itália. Nosso vinhedo e casa estava destruído,começamos a trabalhar para reconstruir tudo.
Voltamos para as geléias e vinhos.
Logo depois meu querido “nono” teve um ataque do coração e morreu. Ficamos tristes por muito tempo.
Mas, meus pais arrumaram um noivo, Antonio Cesar, para o meu desespero.
O casamento seria em quinze dias porque meu pai estava doente e me pediu no seu leito que me casasse.
Comportei-me, aceitei calada a vontade do meu pai.
Na manhã do casamento fui ao quarto dos meus pais e vi e ouvi meu pai de pé rindo, dizendo:
- hoje Elizabeta se casa!
Ele estava bom! Saia fumaça da minha cabeça. Meu pai me enganou!
Minha mãe ajudou-me a vestir o vestido de noiva que pertenceu a ela. Entra minha avó e me vê chorar, abraçou-me e disse baixinho no meu ouvido:
-Netinha ninguém casa com uma louca!
Fomos para a igreja, meus pais de braços dados sorrindo. Perguntei: - Papai já está bom?
_ sim filha você está se casando e com o tempo o amor virá.
Pensei comigo _ o tempo que não tenho!
Quando entrei na igreja as freiras cantando, eu com um bouquet de flores de laranjeira na mão. Olhei para o altar e vi meu noivo, até que era bonito,mas, tinha um nariz bicudo.
Olhei para todas as imagens, lembrei das palavras de minha avó:
-Ninguém casa com louca! Então me decidi, mostrei a língua para o padre,bati, uivei,comecei a coçar os cabelos e gritar dizendo:
- estão ouvindo os alemães estão chegando! Meu noivo me agarrou e eu mordi o nariz dele. Subi no altar belisquei o padre e as freiras e fugi correndo. Arrancando o véu e os sapatos.
Escondi-me no mato, meu pai veio atrás me procurando.
De repente vi um aviãozinho pousado e o piloto inglês arrumando tudo para seguir viagem.
Corri até ele e falei:
-Você pode me levar contigo, fui seqüestrada, minha família está na Inglaterra.
Ele aceitou e seu nome era Johan William, mas eu tinha que segurar uma peça para o avião voar.
Gritei muito quando o avião subiu. Johan me perguntou:
- está vendo aquelas pessoas gritando Elizabeta? É você?
-Não meu nome é Maria Francine.
Decolamos e depois de algumas milhas começou a vazar óleo e sair fumaça do avião. Johan gritou para mim:
_Segura que vamos cair! Vamos morrer!
E eu pensei: fugi do meu casamento par morrer aqui!
Mas, o avião caiu e parou num monte de feno.
Acordei na enfermaria, de um convento, com alguns ferimentos sem gravidade
Meu amigo desconhecido quebrou a perna direita e estava com vários hematomas. Fomos cuidados com carinho pelas irmãs do convento. Eu na ala feminina e ele na masculina onde os frades viviam.
Logo me restabeleci e pensei que se eu saísse dali minha família me pegará e me obrigara a casar.
Comecei, então, a trabalhar no convento, e com o tempo me tornei noviça.
Reencontrei o piloto, os frades o trataram com muito carinho e ele doou uma mala cheia de dinheiro para a igreja.
E com isso ampliaram o hospital e reformaram o orfanato.
Ele me disse que iria ser padre, porque tinha encontrado seu caminho, visto que tinha perdido a memória no acidente, depois me disse que não tinha família.
E estudou e se tornou o Padre Estevão e eu a irmã Francine.
Deram-me a missão mais importante da minha vida: ir para o interior da África, onde poucos pares já tinham estado.
Perguntei a madre superiora porque tinham me mandado pra lá e ela me respondeu:
-Há seis meses tinham matado três freiras e um padre por sermos cristãos.
Eu sorri e sai da sala me encontrando com Padre Estevão. Recebemos a mesma missão, Nós dois sorrimos!
Um olhou para o outro!
-Irmã Francine bonito nome que escolheste!
-Este é meu nome.
Trabalhamos muito. Ele ensinando as crianças a ler era um padre brincalhão e as crianças e o povo o amava.
Eu, no hospital era a auxiliar da auxiliar da enfermagem. O povo necessitava de socorro.
O médico, Dr. Eliot me indicou para uma bolsa de estudos, através da igreja, para cursar medicina.
Estudei com afinco e me formei. Conseguimos ampliar o hospital.
Eu me sentia muito feliz.
A madre superiora enviou as irmãs Catarina e Dominica e os padres Fernão Dias e Estevão há um lugarejo onde tinha uma pequena clinica. Era um lugar selvagem e ouvíamos os leões por perto. Padre Estevão disse-me;
- Irmã Francine estou ouvindo seus joelhos tremerem, calma, eles já almoçaram!
Mal ele sabia que eu já tinha me molhado toda. Pedi licença e fui me trocar, quando retornei seis estranhos, fora de si, haviam chegado querendo nos matar ameaçando até os doentes.
Padre Estevão gritou batam, chutem, são rebeldes e começou a goleá-los dizendo:
-São rebeldes batam, chutem!
Esquecemos de quem éramos,batemos,socamos, pulei em cima de um deles e mordi sua orelha. Até o médico entrou em ação.
Irmã Dominica batia na cabeça deles e fazia o sinal da cruz e dizia:
-Deus me perdoe!
Padre Estevão lutou com alguém que já tivesse feito isto muitas vezes.
Amarramos os rebeldes nas arvores, colocamos os doentes no ônibus e fugimos. Finalmente chegamos a nosso lar.
Havia um paciente que delirava, devido à doença, e contou tudo que passamos para o médico. Ele me chamou e falou:
Irmã Francine ainda bem que esse paciente está só delirando!
- por quê?
-Ele me disse que Padre Estevão e todos vocês entraram em luta corporal com seis rebeldes. Não imagino vocês batendo e amarrando os rebeldes. Logicamente que não fariam isso, porque nesta hora os pobres já viraram refeição dos leões.
Eu tive um acesso de riso e desmaiei. Tive febre e depois de alguns dias estava recuperada. E novamente o médico me disse:
-Irmã Francine o delírio foi coletivo, porque você também disse a mesma coisa que o paciente, pobres rebeldes viraram jantar dos leões!
Desmaiei de novo! Acordei com o padre Estevão do meu lado.
- Bom dia irmã! Tens que fazer o voto do silencio. È só ouvir e desmaiar.
-Prometo que não vou mais!
E a vida continuou...
Tivemos uma idéia de montar um coral. Só uma freira que entendia um pouco de musica.
Ganhamos um piano e limpamos muito bem nosso velho órgão empoeirado. Padre Estevão sabia tocar como ninguém.
Ele começou a tocar e ficou tão entusiasmado que tocava uma musica que era bem diferente de uma canção religiosa. Mas, ele cantava alto e tocava todo feliz. E todos nós paramos para olhar.
Quando nos viu parou de tocar desconsertado e disse:
- Eu só estava testando o piano!
Passado algum tempo ouvi os médicos comentando sobre o final da guerra e senti remorso, tive vontade ver meus pais.
Pedi permissão à madre superiora para viajar e rever amigos, não disse família.
Viajei e retornei para minha terra natal e encontrei os vinhedos destruídos, meus avos já tinham falecido. Minha querida nona me deixou uma caixa de jóia, eu distribui um pouco e o resto vendi para ajudar o hospital.
Quando meus irmãos me viram não me reconheceram com freira, achavam que eu era outra pessoa.
Meus pais estavam vivos! Minha mãe chorou e meu pai disse:
-freira?
- Sim, freira médica! Eu respondi
Todos nos abraçamos e me disseram que sentiram faltas, até das minhas artes. Minha me disse que tinha orgulho de mim! E eu fiquei aliviada. Meu pai me disse:
-Deus faz das nossas vidas Sua obra divina.
Meu dia de retornar estava chegando, eu tinha que voltar!
Minha família iria ficar bem, tinha Deus no coração, eu sabia lá no fundo do meu coração que eu precisava encontrar Deus. E eu tinha certeza que O tinha encontrado, podia dormir em paz.
Retornei para minha amada África, meu hospital. Receberam-me com muita alegria. Infelizmente a madre superiora havia falecido. Agora era a irmã Dominica que era a madre superiora
Nossa obra se expandiu, vi minhas crianças crescendo se tornando homens e mulheres, agora pais falando de Deus e do Seu filho Amado Senhor Jesus Cristo.
Passou o tempo e um dia padre Estevão desmaiou e foi levado ao nosso hospital.
O Dr. Marcos Dimas nos disse que ele tinha um tumor no pulmão já muito avançado.
Orei! Chorei, mas sabia que ele tinha feito tudo que tinha que fazer.
Num domingos de manhã me chamaram ao hospital, padre Estevão estava morrendo.
-Irmã Francine eu se que seu nome é Elizabeta. Tenho algo para t dizer. Quando vi uma noiva louca, sem sapatos, falando muito rápido pensei: Esta louca está fugindo, lembra que eu aceitei que entraste no meu avião?
-Sim, como hoje, claríssimo!
-Irmã amiga o avião era roubado, eu não sabia pilotar, eu estava fugindo da prisão, tinha acabado de roubar uma mala de dinheiro.
-Eu sabia!
-Irmã será que Deus Pai me perdoará?
-Humm, acho que sim!
-Irmã o dinheiro era de alguém que tinha muito, eu tirei do rico e dei aos pobres. Não estava com amnésia, mas se eu saísse do convento seria preso.
- Eu confesso que fugi do meu futuro casamento.
-Eu sei, lembro-me do povo correndo atrás de você. Eu precisava de ajuda, o avião estava com problemas e você me ajudou a fugir. Caímos no convento porque eu nunca tinha pilotado um avião.
-Padre Estevão se eu saísse do convento meu pai me faria casar.
-Irmã Francine não me faça rir, sou um moribundo e olhe para trás.
Quando olhei todos ouviram nossa confissão.
Padre posso morrer contigo? Me de uma carona!
Irmã agora é um só neste vôo para Deus! Eu tenho muito que explicar.
_Padre logo estarás diante do Pai, e eu estou diante de todos, desta vez não escapo. Obrigado por tudo, por mudar minha vida!
_ Irmã mesmo que o avião não tivesse caído no convento, talvez pudéssemos ser um casal
-Nunca somos irmãos para sempre. Muito obrigado!
Neste mesmo dia à tarde o Padre Estevão nos deixou. Ele estava com Deus.
Passaram-se muitos dias e irmão Dominica me chamou e disse:
-Irmã Francine a madre superiora sempre soube quem você era.
-Como? Respondi surpresa.
-Ela conhecia a irmã Pia Maria!
- O que posso dizer?Deus escreve certo nas linhas tortas da vida!
Passaram-se anos e anos.
Em 1972 fui convidada a ir até o Vaticano conhecer Sua Santidade.
Ajoelhei-me diante dele e me confessei, estava aliviada.
Quando terminei ele me disse:
- Filha os caminhos do Pai são misteriosos!
Em cinco de março de 1978 era meu aniversário, ainda me sentia jovem, apesar dos meus oitenta anos.
Sonhei que pisava nas uvas, nos tonéis e sentia o aroma do vinho.
Depois de quatro dias senti o aroma do vinho na minha cela, me levantei abri a porta e saio, eu estava numa fazenda.
Eu estava em casa com meu nono, nona, papa, mama, e padre Estevão. Eu perguntei:
-È assim que morremos?
- Não! É assim que renascemos! Disse o padre Estevão.
Sou irmã Francine, trabalho com muito amor nas moradas do Senhor. Sejam felizes porque “Os caminhos do Pai são flores”.
Irmã Francine.
Ditado pelo Espírito
João Harsam
Psicografado pelo médium
Esaú Davi.