Hoje é doze de dezembro de mil novecentos e vinte e
nove.
Meu nome é Carmem Lucia, meu pai Adelino esta ao
meu lado, estamos entrando na igreja, meu futuro marido, Almir está me
esperando no altar.
Minha mãe Silvia que fez meu vestido de noiva,
simples, mas, lindo.
È o vestido mais lindo do mundo, escolhi me casar
com os cabelos soltos que é na altura dos ombros cortado em fio reto com
franja.
Meu bouquet de noiva foi feito com flores do jardim
da casa dos meus pais.
Sou filha única e meu pai tem uma quitanda.
Eu e Almir
tivemos um noivado longo, nove anos, hoje eu tenho vinte e oito anos e ele tem
trinta e cinco. Éramos vizinhos.
Moramos numa cidade do interior do estado de são
Paulo.
Minha tia Cintia fez o bolo do meu casamento, toda
a família e amigos estavam na igreja.
Minha prima paterna Soraia, casada com um filhinho
pequeno foi quem nos emprestou
sua casa no litoral norte para passarmos a lua de mel, voltaríamos em uma
semana.
Foi
tudo muito simples e bonito. Meu marido Almir era professor e adorava crianças
e queria ter muitos filhos.
Passado
um ano de casados morávamos no mesmo bairro que minha prima Soraia.
Ela
e o marido alugaram uma casa para nós e nos tornamos muito amigos.
Em
1931 eu estava esperando o nosso primeiro filho Pedro que nasceu em outubro.
Pedro
era alegre e muito levado e éramos muito felizes. Meu marido além de lecionar
num colégio só de meninos também trabalhava com contador em uma loja.
Eu
cuidava da casa e de Pedro, eram tempos difíceis e para ajudar nas despesas da
casa comecei a fazer balas de coco para vender.
Pedrinho
ia comigo entregar as balas. Com o tempo comecei a fazer bolos e doces.
Almir
aceitava minha ajuda desde que não atrapalhasse na educação de Pedro.
Soraia
sempre ia a casa levando, às vezes, novas receitas para me ajudar, ela era a
irmã que eu não tinha.
Meus
pais não gostavam muito que Soraia me ajudasse. Eles achavam que ela muitas
vezes esquecia-se da casa dela para estar mais na minha.
O
aluguel tinha aumentado e eu pedi para mudarmos para uma casa mais perto dos
meus pais.
Almir:
- Carmem sua prima ficará sem você, o marido dela trabalha muito e ela fica
sozinha com as crianças.
Carmem:
- Eu fico sozinha também, e meus pais acham que devemos morar mais perto.
Almir:
- Não é isso eles acham que a Soraia fica muito tempo aqui e quanto ao aumento
do aluguel eu trabalharei um pouco mais.
Carmem:
- quanto tempo mais que você irá trabalhar, só resta os domingos.
Com
o passar dos dias meus pais conseguiram convencer Almir a alugar uma casinha de
fundo no mesmo bairro que eles moravam e com o aluguel mais baixo.
Mas,
mesmo assim Almir trabalhava muito.
Soraia
diminuiu as visitas em casa agora que estava grávida da sua filha Marinalva.
Quando
a filha dela nasceu eu engravidei e estava ansiosa para contar para meu marido
quando ele chegasse a casa.
Quando
ouvi o barulho do portão, eu já tinha preparado o jantar e Pedrinho estava
dormindo.
Carmem:
- Almir tenho uma grande e maravilhosa surpresa!
Almir:
- Você pegou mais encomendas de doces?
Carmem:
- Não! Você será pai novamente! Quem sabe não será uma menininha!
Para
minha surpresa e susto Almir ficou nervoso.
Almir:
- Por quê? Agora não podemos, não consigo parar para descansar. Você quer
acabar comigo?
Chorei
muito me senti desolada e desesperada. Resolvi fazer mais doces e vender e
lavar roupas para fora. Com quatro meses de gravidez eu vivia no tanque de
roupa e no fogão. Pedrinho era minha única alegria quando ele sorria meu mundo
iluminava-se.
Soraia
veio me visitar com os filhos, contei a ela a reação do Almir em relação à
segunda gravidez.
Soraia:
- Carmem os homens não são iguais às nós, meu marido também é assim, quando
fico nervosa deixo meus filhos na minha mãe e saio, vou a igreja dar uma volta
de bonde, agora ocupo meu tempo ajudando os doentes.
Carmem:
- Soraia que lindo ser humano você é, eu me queixando para você enquanto você
divide seu tempo com os doentes.
Eu
achava a menina Marinalva linda tinha
cabelos castanhos lisos e lindos, olhos verdes. Eu a chamava de esmeralda.
Soraia:
- Marinalva puxou pelas bisavós paternas, ela é minha pedra preciosa.
Depois
de cinco meses estava lavando roupa quando senti as dores do parto, minha mãe
que estava em casa comigo chamou a parteira.
E
a tarde nasceu minha filha Bernadete.
Almir
chegou à casa a noite entrou no quarto e olhou para o neném e perguntou:
-
Você tem muito leite?
-
Tenho você não precisa gastar com o leite para ela.
Abracei
minha filha e chorei muito.
Com
vinte dias do nascimento de Bernadete eu já estava no tanque de roupa. Minha
mãe me ajudava com os doces.
Eu
agradecia a Deus pelas muitas encomendas de doces e de roupas para lavar.
Conforme
as crianças iam crescendo eu conseguia nos manter, não faltava nenhum tipo de
alimento aos meus filhos.
Eu
entregava as roupas em outro bairro mais longe de casa, enquanto minha mãe
ficava com as crianças. Chegando a casa encontrei Soraia a minha espera.
Soraia:
- Carmem você sabe o quanto minha mãe te amava, e desde o falecimento dela que
eu não sei o que fazer com as crianças.
Prometi
que iria continuar meus préstimos aos doentes mais não posso ir porque não
tenho com quem deixar as crianças. Você não poderia ficar com elas na terça e
na quinta feira à tarde? Meu marido trabalha muito e disse que pagará por essas
horas, sei que faz tempo que não se veem.
Eu
tinha admiração por Soraia pelo trabalho dela com os doentes, e mesmo minha mãe
não aceitando eu concordei.
Toda
terça e quinta- feira as crianças ficavam em casa, e no final da tarde vinha
busca-las, minha mãe sempre ajudando a cuidar das crianças.
Eu
achava que estava fazendo uma caridade para minha prima que tanto bem fazia
para quem precisava.
Sempre
entregava roupas às quartas e sextas feiras. A me3nina Marinalva não dava
trabalho nenhum. Ela era muito carinhosa me olhava com os olhinhos verdes
brilhando.
Já
fazia um ano que as crianças ficavam todas às terças e quintas férias. Soraia
sempre vinha busca-las ante que Almir chegasse a casa. Às vezes Pedrinho falava
dos primos e eu dizia que eles vinham nos visitar.
Almir:
- Tudo bem! Mas, a sua prima traz o lanche das crianças?
Carmem:
- Almir você não era assim? O que há com você?
Almir:
- É o cansaço!
Numa
quarta feira levei Pedrinho comigo para entregar doces, eu havia adquirido uma
encomenda extra de roupas, mas teria que entregar nas quintas-feiras em outro
bairro.
Na
semana seguinte com a sacola de roupas, peguei o bonde e de longe parecia ter
visto Almir caminhando na rua, tive certeza que era meu marido.
Pensei
como? Ele deveria estar no colégio lecionando!
Retornei
para casa pensativa e contei para minha mãe e ela me aconselhou a esquecer. Ao
dormir eu fitava Almir e minha cabeça não parava de pensar.
No
dia seguinte minha pediu novamente para que eu esquecesse.
Silvia:-
Minha filha os homens são assim misteriosos, não era o Almir, feche os olhos,
desde que o mundo é mundo os homens dão seus passeios.
Soraia
logo chegou com as crianças e como tinha feito balas a mais os deixei
deliciando-se e logo sai. Fui ao mesmo local onde tinha visto o Almir, mas não
o achei. Então resolvi ir até a casa da Soraia, sabia que ela estava no
hospital.
Para
minha surpresa uma vizinha veio ao meu encontro.
Carmem:
- Por favor, a minha prima mora aqui a senhora sabe me dizer que horas ela
chega?
A
vizinha me relatou que há um ano Soraia tinha mudado porque o marido havia a
abandonado. Fiquei sem saber o que fazer. Votei para casa e Soaria já tinha
levado as crianças.
Não
consegui dormir, levantei-me e vasculhei os bolsos do paletó de Almir e achei
uma chave que não era da nossa casa.
Na
manhã seguinte a mesma rotina, terça feira a Soraia veio trazer as crianças e
minha mãe as recebeu. Eu estava escondida na praça, quase defronte minha casa.
Vi
Soraia sair, ela estava bem vestida, estava a pé, andamos por quase meia hora,
eu a segui de longe.
Ela
entrou em uma casa e eu pensei que era onde ela morava, achei que ela iria
trocar de roupa para ir para o hospital.
Eu
era completamente inocente, de qualquer forma, não esperava o que vi.
Continuei
esperando por mais quarenta minutos e vi Almir e Soraia saindo juntos da casa e
cada um indo para um lado.
Senti-me
mal e desmaiei, fui acordada pelo farmacêutico.
-
A senhora está bem?
Carmem:
- Meu Deus já é noite!
O farmacêutico e a esposa me levaram até em
casa de carro.
Chegando
a casa Almir abriu a porta.
Almir:
- O que houve? Sua mãe está preocupada as crianças já jantaram!
Carmem:
- Fui entregar doces e me senti mal na rua cheguei a desmaiar.
Almir:
- Não vai me dizer que está grávida de novo?
Carmem:
- Não! Almir.
Eu
pensava: Meu Deus! Soraia e Almir eram amantes, queria reagir, mas, como?
Não
conseguia olhar para o meu marido, pensei nas crianças, nos filhos da Soraia.
Resolvi
conversar com ela era terça feira, quando ela chegar falarei com ela.
Já
era hora do jantar e ninguém tinha aparecido, nem Soraia, nem meu marido havia
chegado.
Dei
o jantar para as crianças e as coloquei na cama para dormir.
Meus
pais estavam preocupados e queriam ir até o hospital para ver se algo ruim
tinha acontecido.
Carmem:
- Pai não é necessário! Eu achava que eles haviam fugido.
Não
conseguia dormir, pensava que não conhecemos as pessoas namorei por nove anos,
e Almir sempre respeitoso, meus pais o admiravam, casamos na igreja diante de
Deus e todos os parentes e amigos. Tinha orgulho de apresentar meu marido, um
professor que trabalhava muito pela família.
Eu
não aceitava o que estava acontecendo, mas não tinha coragem de tomar nenhuma
atitude. Poderia dizer adeus a Soraia, mas, com meu marido eu iria conversar, achava
que devia aceitar a traição, porque tinha filhos e eu seria a esposa largada
pelo marido.
Logo
que amanheceu eu me levantei da cama, ainda não era sete horas da manhã bateram
na porta. Abri com cuidado achando que era o Almir estava pronta para
perdoa-lo, afinal era o pai dos meus filhos.
Ao
abrir a porta vi que era o Américo, esposo de Soraia.
Américo:
- Posso entrar? Ele estava pálido com uma mala deixada do lado de fora da casa.
Américo:
- Carmem estou indo embora! Fiz algo terrível, não sei se você irá me perdoar.
Carmem:
- Américo o que houve?
Américo:
- Hoje eu terei que ir embora, irei para o norte do país. Eu sabia que eles
eram amantes, descobri quando Marinalva nasceu na minha família não tem ninguém
com olhos verdes, mesmo assim eu a perdoei, mesmo ela negando a traição.
Só
tive certeza quando sua tia Magda me disse que havia encontrado Soraia e Almir
no bonde. Ela me disse que se
encontraram por acaso, que Soraia ia indo a sua casa para pegar as crianças e
que ela tinha muito orgulho que a filha era benemérita.
Mas,
eu sabia que Soraia nunca ajudou ninguém, nenhum doente.
Ela
não me aceitava como marido depois que tivemos nosso único filho Josué Fabrício.
Américo:-
Carmem, Marinalva é filha do Almir com Soraia.
Eu
fiquei atordoada achei que fosse desmaiar, mas tinha que ouvir tudo por mais difícil
que fosse.
Carmem:
- Como você conseguiu aceitar? Diga-me como eu também preciso aceitar?
Américo:
- Há um ano eu a abandonei nossa casa e Almir alugou uma casa para eles, ia
visita-la toda terça e quinta feira!
Carmem:
- Meu Deus! Pedro e Bernadete são irmãos de Marinalva. O que Faremos?
Américo;
- Carmem eu não terei perdão! Depois de pedir a Soraia, varias vezes em nome
das crianças que mudasse de atitude. Ontem à tarde eu os encontrei no quarto, na
cama e atirei. Foram quatro tiros no Almir e um no peito de Soraia.
Carmem:
- Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus!
Américo:
- Eu peço perdão, mas, era uma questão de honra!
Carmem:
- Honra! Os dois eram pecadores, mas era pais, o que você dirá para seus filhos?
Você estava com as mãos limpas de sangue, mas, agora como você olhará nos olhos
dos seus filhos? Agora Josué é pequeno, mas logo será um homem o que ele sentira?
E os meus filhos? E Marinalva?
Américo:
- Não olharei nos olhos dos meus filhos, partirei, diga que fui um bom pai.
Aqui nesta caixa está o dinheiro e uma carta para eles. Por favor, crie os meus
filhos, agora são seus.
Carmem:
- Meu Deus! Meu Deus!
Não
conseguia parar de chorar, vieram todas as lembranças, estavam mortos. A
atitude de cada um fizeram suas escolhas, achavam que estavam acima do bem e do
mal.
Algumas
pessoas agem assim pensam que nada acontecerá com eles, que são imortais e que
nunca serão cobrados de nada, mas, a resposta vem sem volta muitas vezes.
Américo:
- Carmem você será uma boa mãe, diga a eles que eu os amo e nunca conte a
Marinalva a verdade.
Carmem:
- Eu cuidarei deles como meus filhos, direi a eles que Soraia e Almir foram
para o céu, depois pensarei no que direi.
Américo:
- Adeus Carmem! Um dia te darei a mão quando você menos esperar!
Carmem:
- Adeus Américo!
Sentia
que não o veria nunca mais. Mais tarde veio a policia avisar que Almir estava
morto com três tiros e Soraia com um tiro. Tive fazer uma fisionomia de
surpresa.
A
fama de Soraia de mulher separada e adultera fez com que ninguém fosse ao velório.
No velório do meu marido muitos amigos e familiares estavam presentes.
Diziam
pobre homem honrado e trabalhador fora vitima de uma emboscada.
Passei
todo o velório sentada em minha casa, às crianças estavam na casa dos meus
pais. Todos tinham entendido a realidade dos fatos, mas, Soraia levou toda a
culpa e a má fama.
Lutei
muito na vida, trabalhei muito, passaram-se dez anos. E um dia chegou uma carta
de Américo dizendo que havia colocado no banco em meu nome uma quantia para te
ajudar. Neste momento estou com um
revolver apontado em minha direção, não consigo conviver com o que eu fiz.
Adeus! Seu eterno amigo.
Depois
de ler a carta entendi que Pedro, Bernadete, Josué Fabrício e Marinalva eram
meus quatro filhos. Nunca contei a verdade, disse que os pais haviam morrido
num acidente. Depois que recebi a carta mudamos de São Paulo para o interior.
Passaram-
se trinta anos! Pedro agora era um bom pai, ele e a esposa Vilma Maria eram
feirantes. Bernadete estava casada, era uma boa mãe e boa esposa.
Para
ela o pai era amoroso, sempre achei que Almir encontraria alguém que o marcaria
para sempre. Ele era um professor que não sabia nada da vida.
Josué
Fabrício lembrava-se muito pouco da mãe, era casado, um bom pai e se tornou um ótimo
torneiro mecânico. Marinalva, minha esmeralda foi a ultima a se casar.
Casou-se
com quarenta anos com um engenheiro. Conheceu um mundo de muito amor. Cuidou de
mim até a minha morte.
Para
Josué e Marinalva a mãe era linda e bondosa e o pai foi trabalhar no norte e
morreu por lá.
No
dia três de abril de mil novecentos e setenta e cinco em Campinas eu
desencarnei. Não porque estava doente, mas, era chegada a hora.
Quando
vivemos em paz não devemos ter medo de viver e muito menos de morrer.
Eu
estava internada e sabia que era chegada minha hora, disse a Marinalva:
Carmem:
- Milha filha acho que estou morrendo, estou me sentindo tão leve.
Marinalva:
- Mamãe é porque você tem um coração leve, em paz!
-
Eu te amo mamãe!
Eu
ouvi as palavras eu te amo bem longe! Muito longe!
Estava
vendo flores, mas, não conseguia atravessar o véu, senti uma mão forte me levar
até um portão grande repleto de flores.
Carmem:
- Obrigado por ajudar esta velha aqui acho que estamos num lugar diferente.
Quando
olhei melhor era Américo com um grande sorriso.
Américo:
- Carmem obrigada por tudo! Nossos filhos estão bem, obrigado por ensina-los a
orar por mim. Contarei-te tudo que me ocorreu.
Eu
estava perplexa. – Américo se estamos aqui é porque morremos!
...
“Carmem
e Américo sentaram-se num lindo jardim e ele começou a contar sua trajetória”.
-
Eu fiz muita coisa errada, tirei a vida de duas pessoas, de minha esposa e seu
marido, e por ultimo a minha vida pela dor que sentia pelo que fiz.
Achava
que eu não merecia viver cheguei ao ultimo estagio de sentimentos negativos e
confusos, depois que tirei minha própria vida.
Não
queria abrir os olhos, passei um bom tempo assim, sem querer enxergar nada.
Quando
decidi abrir os olhos devagar vi o lugar mais feio do mundo, sem vida. Escuro com
muita lama, rochas cinzentas, pessoas gritando em desespero, outras jogavam
pedras em todos pedindo para deixa-los em paz.
Depois
de algum tempo ouvi a voz de um homem pedindo socorro e logo apareceu alguém com
uma luz muito clara ajuda-lo e eu perguntei:
-
Que lugar é este? Ouvi-o dizer:
-
Você está nas profundezas do seu desespero, seus sentimentos estão confusos, há
muita dor que te consome, clame pelo Senhor Deus, clame ao Senhor Salvador
Jesus Cristo, arrependa-se dos teus feitos. Peça perdão ao Pai!
Comecei
a pensar que eu era o mal ladrão que estava ao lado de Jesus.
A
maioria de nós é assim, fazemos coisas erradas, mentimos matamos aos outros e a
nos mesmos na covardia de não querer assumir nossos próprios erros.
Covardia
em não olhar para nós mesmos, de ouvir e entender que erramos, ou achamos que
somos os senhores da vida então podemos tirar minha própria vida que não mereço
mais viver. Então apago a luz e saio de cena?
Meus
pensamentos eram confusos, sabia que tinha tirado a vida de duas pessoas. Comecei
a andar, minhas aflições vagavam no tempo.
Até
que vi jogada na lama, ela, minha esposa Soraia, aquela que me traira.
Cheguei
mais perto achando quem ela me reconheceria.
Soraia:
- Ei moço! Tira-me daqui! Ele vai vir e me matar, sinto dor de parto, tirei
meus dois bebes. Moço me leve ao hospital.
Américo:
- Meu Deus! Ela não me reconheceu, está gritando de dor como se estivesse com
dor de parto, é o remorso que está a fazendo gritar. Quanto tempo será que faz
que estamos aqui?
Voltei
onde estava Soraia, ela gritava de dor.
Soraia:
- Moço!Moço! Tem alguma coisa errada meus bebes não nasceram. Fiquei
compadecido e disse a ela.
Américo:
- Soraia te peço perdão! Alguém! Deus nos ajude!
Vi
de longe uma pessoa de roupa clara, chamei-o para ajuda-la, me ajoelhei, eles a
levaram.
-
Você está começando a entender! Disse o homem de roupa clara.
Eu
não aceitei ir com ele, não me achava digno, o tempo parecia não passar e eu
ouvia orações!
-
Papai eu te abençoo!Era a voz dos meus filhos orando por mim, chorei muito, arrependimento
dilacerava meu coração.
Estava
vagando naquele lugar escuro sem fim, parecia o sertão sem luz, com a dor no
meu coração até ver o Almir, o reconheci, ele se arrastava na lama de
sentimentos. Tive vontade de chuta-lo, mas, um homem sem rosto me empurrou
dizendo:
-
Não faça o mesmo que eu fiz, chutei a mim mesmo, se você chuta-lo estará
chutando a si mesmo, perdoe!
Olhei
em direção da voz que não era estranha, era meu pai Alaor Mendonça.
Ele
tinha abandonado minha mãe, eu e minha irmã. Não perdoava meu pai, tinha ódio dele
pelo abandono. Ele olhou para mim e eu disse a ele.
-
Eu conheço você dos meus sonhos ou pesadelos?
-
Vamos ajuda-lo, eu o ouço chorar, disse referindo-se ao Almir.
Eu
neguei, e ele me ajudou a olhar para o Almir como um coitado, na verdade o ódio
que eu sentia vinha do meu pai por ter nos abandonado. Aquele homem que eu
reencontrei no inferno de nós mesmos.
Fiquei
confuso, que armadilha era aquela? Será que Deus me colocar abem de frente com
a minha própria realidade? Escondemos-nos dentro de nós mesmos como tartarugas
que quando temem colocam a cabeça dentro do casco.
Cheguei
perto do Almir, ele não me reconheceu, de longe vi os socorristas, chamei por eles.
O que importava era a minha decisão de ajuda-lo.
O
socorrista sorriu e perguntou:
-
Não queres ir conosco?
Américo:
- quero, mas, me ajudem com meu pai!
Segurei
a mão do meu pai com firmeza, agora eu podia ouvi-lo com clareza.
O
socorrista e o Almir sumiram. Eu entendi que eu tinha que atravessar aquele
lugar até chegar lá em cima, eu o levava segurando firme sua mão. E ele dizia.
Alaor:
- Quem é você para me ajudar?
Américo:
- Não importa! Agora vamos em frente. A subida de nós mesmos é difícil, é como
escalar o monte Everest.
No
final da caminhada aquele homem que tinha medo de tudo, que era eu, tinha
conseguido subir com meu pai. Vi meu pai olhando para mim e dizendo:
Alaor:
- Américo meu filho me perdoe!
Américo:
- Pai porque o senhor nos abandonou? Perguntei com o coração cheio de lagrimas.
Alaor:
- Por que fui fraco, perdi meu emprego, bebi muito fui parar na sarjeta. Tinha
uma foto de vocês, era meu consolo, um dia cheguei perto de casa, sua irmãzinha
me viu e não me reconheceu correu para dentro chamando a sua mãe dizendo que
tinha um bêbado na porta. Resolvi sumir! Eu tive pena, ódio de mim mesmo,
depois o ódio transformou-se em lamento, em dor.
Américo:
- Pai vamos para casa, os socorristas estão aqui.
Eles
nos ajudaram, chegamos ao hospital, tivemos tratamento com base na caridade e
no amor. Meu pai entendeu e pediu para renascer numa nova vida. Ele será meu
pai nesta nova etapa. Meu coração agora via tudo diferente, queria aprender tudo
com amor que é à base da vida ’’
...............................................................................................................................................
Américo:
- esperei você chegar todo este tempo para te agradecer, agora eu estou
partindo para uma nova aprendizagem, uma nova chance.
Carmem:-
Estou chegando e você partindo?
Américo:
- Eu te poupei de um trabalho imenso, pedi para reencarnar e Soraia e Almir
serão meus filhos na Terra assim terás paz.
Carmem:
- Graças a Deus! Pensei que você iria me dizer que Soraia seria sua esposa
novamente.
Américo:
- Tenho que ir, pegarei o trem das emoções, aprenderei a viver enquanto Almir e
Soaria não chegarem, é uma troca de sentimentos. Carmem você ensinou meus
filhos a orarem por mim foi o que me salvou, obrigado.
Carmem:
- Está tudo bem nossos filhos são felizes eles não tem rancor de você ou de
Soraia. Encontraremos-nos, eu te esperarei amigo! Até breve!
Américo:
- Enfermeiros esta é minha amiga e irmã Carmem Lucia, você estará em boas mãos.
Seja feliz.
Carmem:
- Veja, são meus pais! Estão vindo ao portão para me receber, que lugar lindo!
Eu já estava me sentindo feliz. Alguém sempre nos espera quando nosso coração
está pronto.
FIM
Ditado
pelo Espírito de João Harsan
Psicografado
pelo médium Esaú Davi.