domingo, 1 de abril de 2012

O DESTINO DE AKILA

                 
Meu nome é Akila que quer dizer “pássaro veloz", vivia numa linda ilha com meus pais e irmãos .Éramos livres como pássaros vivíamos em paz. Éramos alegres, tínhamos danças aos deuses e festas maravilhosas. Eu estava comprometida com Talu, jovem forte e belo da minha tribo.
 Dias antes meu irmão tinha visto um grande barco na praia. Mas estávamos alegres minha irmã dera a luz a um grande e lindo menino.Amanheceu os mais velhos foram caçar, eu e mais irmãos tomávamos banho no rio.
Faltavam três dias para minha união com Talu.
De repente ouvimos uma grande gritaria e depois o silencio. Minha irmã Dana com o bebe no colo.  Entramos no mato e chegando à aldeia vimos Tatian, mãe de minha mãe ferida. Havia brancos por todo lado querendo se enriquecer com nosso povo!
Morreu a grande Mãe! Enrolamos os mortos os cobrimos com flores e os entregamos ao rio. Acreditávamos que quando chegassem às quedas eles estariam no GRANDE POVO!
Fomos todos amarrados e dormimos perto do rio. Os brancos com suas roupas estranhas abriam nossas bocas e cutucavam nossos dentes. Pegaram o recém nascido e colocaram de cabeça pra baixo, minha irmã, então pegou uma faca e matou o branco.Pegou seu filho e fugiu para o mato  , mas, eles a perseguiram e a mataram.Jogaram seu filhinho no chão e eu lentamente me abaixei e o puxei para mim. Foi então que veio um branco e brigou com a raça deles.Começamos a andar  e para o pequeno não chorar, com medo que o matassem, o colocava em meu seio mesmo sem ter leite.Chegamos a um grande barco,rasgaram nossa roupas,vi meu pai ,irmãos e Talu acorrentados.
Jogaram-nos no fundo do barco todos acorrentados por dias e dias para nos alimentar jogavam restos de alimentos pelos buracos e bebíamos água da chuva e eu dava pro bebe. E pensava por quê?
Não tinha leite para amamentá-lo e muita vez dava-lhe minha urina para matar a sede. Ele dormia por dias e dias eu o alimentava com o restos dos brancos.
Alguns de nos morreram no caminho e foram atirados ao mar. Finalmente o alçapão abriu e nos tiraram acorrentados. Descemos nos deram terra para comer e dei também para o bebe. Eu o chamei de Oatan ou Valente.
Lavaram-nos e nos levaram a um lugar que tinha muitos brancos com grandes roupas estranhas, eu achava que se vestiam assim porque tinham vergonha de si mesmos.
Entendi que estávamos sendo vendidos. Ficamos o dia todo acorrentados sob o sol, sem água ou comida. Tentaram separar Valente de mim achando que éramos mãe e filho fomos os últimos. A tarde veio um temporal e assim eu e Valente pudemos toma água da chuva.
De repente           parou uma “coisa” puxada por cavalos tinha uma branca La dentro e fez sinal me puxaram e fui colocada numa carroça com grades onde tinha vários africanos.
Depois de um tempo chegamos a uma grande fazenda. Fomos arrastados e colocados na senzala acorrentados  pelos pés.
Entramos na casa grande pelos fundos, entendi que a branca era baronesa. Uma escrava mais velha arrumou uma roupa e um saco e colocou Valente amarrado a mim com a boquinha amarrada, eu o soltava e colocava no meu seio.
Trabalhei na cozinha da casa grande e quando podia roubava pedaços de comida e punha embaixo do seio e quando voltava para senzala eu dava para Valente que dormia amarrado a mim. No dia seguinte a escrava velha “Suan” me disse: - você tem que amamentar seu filho! Seu leite está vazando. Assustei-me! Suan permitiu que eu ficasse por um tempo La fora, olhei para meu seio apertei e saiu leite. Mas como?Valente mamou nos meus seios e eu chorava!
A baronesa veio à cozinha e pediu para pegar Valente no colo, fiquei apavorada, mas entreguei o menino a ela.
Ela o segurou por instantes e depois disse: - Mãe toma seu filho! Depois Suan me contou que ela tinha perdido duas barrigas. Ela era boa, mas o marido não.
O tempo passou comecei a servir a mesa.
Valente ficava dormindo num cesto escondido na cozinha.
Um dia a baronesa ficou muito doente e Suan foi cuidar dela e o barão entrou na cozinha me olhando de um feito que me dava muito medo. Suan rezava para Deus pela saúde da baronesa e perguntei:
-Quem é esse Deus? È um dos nossos? E ela respondeu:
-Você não está mais na África aqui tem igreja, Ele criou tudo que existe.
-Ele nos fez escravos Suan?
Um dia estava na cozinha limpando e não vi quando o barão entrou, ele me agarrou e me violentou, senti muita dor, quando descobriu que era a minha primeira vez me soltou. Gritei e chorei por dentro. Lavei-me com as águas dos potes. Fui para a senzala, Valente não dormiu queria brincar.
Amanheceu me deram ordens de ir trabalhar na lavoura.
Passei na capela e vi a cruz e o pobrezinho crucificado. Pensei: pobrezinho! Eu não tenho pregos nas mãos! O que você fez?
Comecei a ir à capela orava para Jesus! Pobrezinho te livre da cruz! Uma tarde levei uma flor à capela der repente à porta abriu-se era o barão. Ele me bateu ameaçou tirar meu filho e me violentou novamente. Foi embora rindo! Senti vergonha, mas, olhei Jesus preso na cruz, me envergonhei. Pensei vou tirá-lo daí.
Na lavoura passou o tempo Valente andava e os irmãos escravos ajudavam a cuidar dele. Um dia me senti mal desmaiei. Suan me disse que eu estava de barriga me perguntou de quem era e eu chorei.
Ela me abraçou chamou seu irmão e fingimos que ele era o pai do meu filho. Zuar me tratava bem e acabamos sendo um casal de verdade. Meu filho nasceu na senzala e o batizamos com nome de Jotan.
Quando a baronesa ficou boa soube do meu segundo filho. Passaram sessenta dias Jotan era moreno claro e o escondíamos. Decidimos que devíamos fugir eu Zuar e as crianças, mas fomos pegos. Zuar morreu no tronco com cem chibatadas, eu e meus filhos fomos trancados na solitária até o barão voltar de viagem. No dia seguinte a cela foi aberta era a baronesa, voltamos para senzala. Fui à capela visitar o Pobrezinho Jesus. Dizia aos meus filhos que Ele sofria mais que nós. Valente tinha então quatro anos e me disse:- mamãe eu ouvi o pobrezinho dizer que tudo mudará.
O barão voltou doente com muita febre e logo morreu. Acompanhamos o enterro de longe.
Voltei a trabalhar na cozinha. O irmão da baronesa queria vender valente, corri até a baronesa me ajoelhei aos seus pés e implorei pelo meu filho. Ela me respondeu:
-Você já fala bem o português, sabes que não puder ser mãe, e o seu segundo filho é do barão? Abaixei a cabeça e ela me disse – ele é moreno claro tem todo o jeito dele. Sei que você não tem culpa ele fazia filhos para nascerem mais fortes e serem mais caros no comercio. Ele vendeu mais de quarenta e cinco filhos que eu sei, não pude fazer nada.Deixe eu criá-lo ele irá em boas escolas na cidade, abrirei uma escola na fazenda e Valente poderá estudar.Meu irmão esta indo para Espanha e se casará.
E assim aceitei. Passaram-se anos.
Meu filho Valente estudou, trabalhou na fazenda e com dezoito anos se casou. Jotan passou estudando fora e me mandava cartas. Eu não sabia ler, então esperava a sobrinha da baronesa, a professora da escola da fazenda Maria Carolina. Levei as cartas para ela ler e descrevia a cidade do rio de janeiro. Ele dizia que me amava e sabia do sacrifício que eu havia feito por ele.
Passaram muitos anos...Valente havia se casado e tido uma linda menina.
Recebemos a ultima carta de Juan dizendo que logo chegaria.
Mas, uma tristeza tomara conta de todos os escravos. Suan estava muito doente. Ela era minha amiga/irmã e tinha me ajudado a criar meu filho Valente.
Depois de quatro dias, Sua morreu em meus braços, olhando pela janela, um passarinho que cantava.
Ela me disse baixinho: - Ele veio-me dizer que estou livre!
A baronesa colocou flores em seu tumulo.
Alguns dias depois fiquei responsável pela cozinha com a ajuda de minha nora. Tinha chegado uma carroça de outra fazenda com grãos que trocávamos por café. Fui averiguar e vi um escravo velhinho e resolvi levar-lhe água.
Quando ele tirou o chapéu eu o reconheci, chorávamos muito.  Era meu pai com noventa e dois anos. A emoção tomou conta de nos e ficamos abraçados chorando de alegria.
Meu pai me contou que dois dos meus irmãos tinham fugido para Palmares. Ele reconheceu Valente que se aproximava e sorrindo lhe disse:
-você foi salvo porque se alimentou da urina de sua mãe e contou-lhe que era meu sobrinho e tudo que passamos.
Ele me abraçou carinhosamente e disse: - mamãe!
Passaram dez  dias eu estava ajudando a trazer as verduras para cozinha quando a baronesa me chamou na capela que havia sido lavada e colocado bancos novos, tinham colocados muitas flores, ia ter uma missa por ordem da baronesa.
Ela fez sinal para que eu me sentasse ao seu lado, estávamos aguardando a chegada do padre. De repente começaram a tocar os sinos da igreja e entraram as crianças brancas e negras trazendo o padre.
Eu estava orando de cabeça baixa, ainda me confundia com a oração, mas a voz firme e calma do padre me fez olhar!
-Pobrezinho Jesus os homens brancos e negros Te tiram da cruz, dos pregos!
O padre era meu filho Jotan!  Quando acabou a missa Jotan ,agora padre João de Jesus me abraçou e disse.
-Mãe querida te peço sua benção!
E virando-se para a baronesa disse:
-Minha querida madrinha!
Jotan me levou até a cruz e vi que Jesus não estava lá.
- Filho você o tirou da cruz?
-Não mamãe!  Eu aprendi toda a vida de Jesus e sei que Ele não está mais lá.
Os anos se passaram veio à lei Áurea, na fazenda nós não sabíamos de outras leis. Estávamos livres!
A baronesa dividiu as terras para quem quisesse ficar. Tínhamos uma casa, eu meu filho Valente com sua esposa e filhos. João de Jesus morava na casa da igreja.
Um dia a baronesa não acordou, morreu dormindo. A sobrinha e o marido tomaram  conta de tudo. Logo vieram os italianos, eram
alegres, não tinham correntes. Mais de dez anos se passaram.
Eu colhia flores para a capela quando vi meu pai, minha irmã, meus irmãos e Suan colhendo flores comigo.
Entramos na capela meu pai disse:
-Vamos colher mais flores em outro lugar, lá as flores são mais lindas!
Eu respondi:
_vamos! Olhei para trás e vi meu corpo deitado no altar.
Olhei para Jesus!
-O senhor me libertou agora plantarei flores porque Te conheço Meu Senhor Jesus, viemos de correntes porque não te conhecíamos!
                                
                                          Luz para Luz!
                                                   

                                                                     

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